Dra. Wanda Heloísa Ferreira
Reumatologia
Fonte: Fala Doutor do Portal Unimed
A Artrite Reumatóide (AR) é uma doença inflamatória crônica de etiologia desconhecida, ocorrendo em todas as idades e apresentando como manifestação predominante o envolvimento repetido e habitualmente crônico e simétrico das estruturas articulares e periarticulares podendo, contudo, afetar o tecido conjuntivo em qualquer parte do organismo e originar as mais variadas manifestações sistêmicas.
Pela sua prevalência e pelos importantes problemas médicos, econômicos e sociais que suscita, a AR é indiscutivelmente, a principal doença reumática sistêmica.
Quando não tratada precoce e corretamente acarreta, via de regra, graves consequências para os doentes como incapacidade funcional, incapacidade para o trabalho, elevada co-morbidade e aumento da mortalidade em relação à população em geral.
Apesar da AR não ter ainda uma etiologia conhecida, sabemos que fatores genéticos, ambientais, imunológicos, hormonais e outros, seguramente são importantes.
O diagnóstico precoce da artrite reumatóide é fundamental, uma vez que esta doença diagnosticada no seu início, ou seja, nos primeiros seis meses da sua evolução e tratada corretamente, tem grandes probabilidades de não deformar e de não originar erosões ósseas e, o que é mais importante, de impedir ou retardar as incapacidades funcionais e laborativa.
O diagnóstico da AR é, atualmente, uma urgência médica (ao fim do primeiro ano de doença 60% dos doentes têm erosões ósseas, elevando-se para 90% ao final de dois anos).
Por isso, vários Serviços de Reumatologia já têm setor de Artrite Precoce. Os principais obstáculos ao diagnóstico precoce são o próprio doente que, na maioria das vezes, já chega tardiamente ao atendimento médico e ao próprio médico, que não referenda prontamente este doente ao reumatologista.
Platão definiu prazer como ausência de dor. “A dor é uma das coisas mais importantes de minha vida”, escreveu a francesa Marguerite Duras, autora do roteiro de “Hiroshima meu amor” para o cinema. E o portador de Artrite Reumatóide frequentemente refere-se à sua dor como “uma das piores companhias” porque invade seu corpo dia e noite sem ser convidada.
A dor é o sintoma mais comum da doença, um alerta do organismo de que algo não vai bem com ele. Pode ser transitória e rápida, mas se for crônica, como na maioria dos casos de AR, exige cuidados constantes, pois debilita e gera uma depressão porque não tem alívio rápido, gerando um comprometimento da qualidade de vida, inclusive para realizar tarefas habituais ou até mesmo a higiene pessoal.
Geralmente deriva de vários fatores que se interagem e favorecem o seu aparecimento. O primeiro passo para sanar o problema é o diagnóstico correto, mas nem sempre ele é rápido porque a dor da AR pode se manifestar de várias formas. Cada pessoa sente a dor de um jeito e tem determinada tolerância a ela. Logo, é difícil quantificar a dor, pois em sua percepção estão envolvidas características culturais, ambientais, de sexo, idade e história pregressa. Alguns fatores como problemas psicológicos podem amplificar a intensidade da dor em cerca de 20% segundo alguns estudos. A ansiedade, a tensão ou o excesso de trabalho, associado à dor da artrite, originam um ciclo que muitas vezes é difícil de ser quebrado sem o apoio psicoterápico especializado.
O conceito de que a dor é parceira inseparável da doença deixou de ser aceito e hoje há controle para os mais diversos tipos de dor encontrados na artrite reumatóide. Novas técnicas e novos medicamentos como os agentes biológicos garantem o sucesso da terapia na maior parte dos casos e apontam para um caminho promissor.
Em relação a AR nada é mais oportuno do que recordar Hipócrates “Curar nem sempre se pode; aliviar quase sempre se pode; mas o que sempre se pode é consolar!” E o médico só pode consolar quando consegue mais do que simplesmente olhar e receitar para o seu paciente. Consegue vê-lo em toda sua plenitude, abatido pela dor, pelo medo e pela sensação de estar sozinho na luta contra o seu sofrimento. O médico deve considerar-se como o primeiro e mais eficaz medicamento a ser oferecido ao seu paciente e do qual dependerá a adesão ao restante do tratamento, seja medicamentoso e/ou interdisciplinar. A esperança que o portador de AR deposita em seu médico obriga este profissional a ter além da competência para tratar, sabedoria para informar o diagnóstico de uma doença crônica, e de sua característica muitas vezes evolutiva apesar dos tratamentos atuais. A maneira com que esta realidade é transmitida faz toda a diferença! Aí está também a grande diferença entre a maioria dos profissionais. Alguns tratam pessoas portadoras de AR, outros tratam apenas a artrite.